vivendo na zona de conforto?

 



Nota da autora:
o que é zona de conforto (e sair dela) para mim,
pode não ser o mesmo para você.

Viver, em si, já é bastante desafiador.
Ainda existe as expectativas que a família e os amigos colocam em cima de nós.
E, como não fosse suficiente, existe a expectativa que nós criamos sobre nós mesmos.

Falando por mim, já lutei muito para sair das minhas zonas de conforto na vida e, a cada vez que era obrigada - pela vida mesmo -, eu vivia uma dor horrível e sempre passava para um quadro depressivo que piorava e piorava com o tempo. Até que, em um momento, consegui mudar e viver de uma forma que era confortável para mim, mas em partes.

Saí de um trabalho horrível, que só me fazia mal e que agravou minha depressão, me desapaguei - muito apego por pessoas e épocas - do meu psiquiatra, que eu adorava, porque ele não estava sabendo lidar com o pós da minha tentativa de suicídio. Vivi um ano em depressão profunda e tentei suicídio. Mudei várias vezes de psicóloga, meu segundo psiquiatra, que eu gostava ainda mais do que o primeiro, parou de me atender porque iria atender só em outra cidade (isso me arrasou). Mudei de estado, bairro, apartamento, vizinhança e vivo - até hoje - lutando contra os reflexos do que uma vida de relacionamento abusivo - por parte do meu pai - fez em mim, passei por uma grande perde e a ter muito mais responsabilidades - gigantescas, intensas e dolorosas essas últimas mudanças -, virei esposa, dona de casa, dentre outras coisas - aqui são a maioria das minhas dificuldades com a saúde mental, que exercem um impacto imenso em todas as áreas da vinha vida.

Mesmo diante de tantas mudanças, me peguei refletindo se eu vivo em uma grande zona de conforto e isso me doeu e me incomodou muito. Ganhei uma longa semana de crise existencial e dúvidas sobre quem eu sou, minha escrita e até sobre as músicas que ouço e séries que acompanho.

Senti uma pequenez e uma mediocridade, que foi injusto comigo mesma. Até que, agora há pouco, antes de engatar em um sono, percebi que não sou nada disso, que não vivo na porcaria de zona de conforto coisíssima nenhuma, porque a vida está aqui, sempre me dando na cara e de várias maneiras.

Gostar de ouvir as músicas que eu já conheço me ajuda muito, principalmente a viver um dia mais leve e por poder saber o que esperar daquela música que escolhi ouvir ou pular. Me faz evitar os sentimentos que eu não quero/posso lidar naquele momento ou mesmo girar a chave e transformar um sentimento de agonia/ansiedade e/ou tristeza em algo positivo para continuar meu dia, porque nada para se eu paralisar. O contrário também. Tenho minhas músicas para ouvir quando preciso desabar e lidar com os sentimentos que não tive tempo para lidar.

Sobre minha escrita, confesso que tenho olhado alguns cursos por aí, mas eu amo escrever sobre sentimentos, sobre o domínio que eu tenho da depressão e ansiedade - das minhas, pelo menos -, porque escrever pode ser muito terapeutico. Amo contar histórias dos meus amigos, dizer o que eu não disse sobre o que eu senti há 15 anos - nessa época eu tinha 12 anos e não sentia nada, mas enfim né? - e gosto de tocar pessoas com as minhas palavras, porque isso é o mais incrível para mim.

Gosto de fazer o máximo para não me sentir desconfortável com os meus sentimentos durante meu dia-a-dia, porque durante muitos anos tudo o que eu vivia era caos, confusão, medo, ódio, sentimento de incapacidade, mais medo... e eu não quero viver assim nunca mais. Fico grata que, do alto do meu previlégio, consegui fugir de tudo aquilo que me fazia tão mal e por não precisar me colocar nesse lugar novamente.

Hoje, aos quase 28 anos, não vivo os mesmos tipos de conflitos de 10 anos atrás. Mas hell no, não vivo em nenhuma zona de conforto, vivo na corda bamba da vida.

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