aquela era nossa última briga



Abri a agenda para olhar minhas tarefas do dia. Os trabalhos, as entregas, algum prazo para acompanhar… mas então eu vi a data. Neste mesmo dia, há dois anos, você sumiu. Me lembro de você dizer que aquela era nossa última briga, que eu nunca mais ouviria falar de você e que você desapareceria da minha vida para sempre. Éramos tão grudados, que eu só chorei e pensei que dali há duas semanas estaríamos sentados no sofá da sala tomando sua cerveja e bebendo meu vinho de burguesa - como você me chamava - que você mesmo teria comprado no caminho pelo preço mais barato. Mas se passaram duas, três, seis semanas e você não apareceu, não atendendo minhas ligações, ignorou minhas mensagens e fingiu que eu não existia mais. Não adiantava perguntar por aí, é como se você nunca tivesse existido e, tudo que vivemos, teria sido um sonho. Não sei por que você tanto quis calar meu coração, ou por que se sentiu no direito de partir meu coração, quando eu mesma havia colado pedaço por pedaço para entregar a você. Erro meu? Foi um erro tão grave assim que eu cometi? Eu não me lembro do que possa ter acontecido para você sumir assim e me deixar no escuro por anos. Até hoje. Hoje você bateu na minha minha porta como uma lembrança  de dois anos. O vinho estava na mão, mas eu te disse que eu comprava meu próprio vinho há um bom tempo. Deixei você entrar, mas quando começou a sorrir, eu pedi para que parasse. Eu quis que isso acontecesse por tanto tempo, mas agora que estava na minha frente, eu só queria que você desaparecesse de novo. Não procuro aventuras e instabilidade. Quero alguém que saiba o que quer e que seja eu esse querer. Enquanto você brincava de gato e rato por aí, eu cresci, aprendi a me amar sem você, a comprar meus vinhos e toma-los vendo um filme na minha cama. Sozinha. Feliz. Você se levanta e se despede brotando um beijo na minha testa e dizendo que tem orgulho de mim. Meu coração gritava para que eu fosse atrás de você, mas na batalha entre mente e coração, eu escolhi o amor próprio. E quando você disse que aquela seria nossa última briga, você tinha razão.

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